domingo, 6 de julho de 2014

O moderno Pasteur na casa centenária

OESP Caderno metropole p. a16
EDISON VEIGA
Sexta-Feira 04/07/14

Instituto passa por reforma de R$ 927 mil

Depois de dois anos de obras e investimentos de R$ 927,8 mil, o centenário prédio-sede do Instituto Pasteur, na Avenida Paulista, está pronto. “É uma história que não vai ter fim”, comenta o secretário de Estado da Saúde, o médico infectologista David Uip. “Este casarão tem inestimável valor para a história da saúde pública paulista.”
Referência nacional em controle da raiva animal e humana, o Pasteur teve restauradas a fachada e os muros do prédio, com a recuperação e pintura da estrutura centenária, instalação de um sistema de drenagem de águas pluviais, e revestimento em mármore da escada de acesso da entrada principal, que foi totalmente refeita. Além disso, também foi reformado o piso e substituídas as instalações elétricas e hidráulicas. O prédio recebeu nova estrutura para elevadores. “Todos os problemas do prédio foram resolvidos”, comemora o secretário. O instituto adquiriu ainda novos equipamentos, como incubadoras, microscópios e freezers.
Durante as obras, o Pasteur não interrompeu as atividades. O atendimento ao público foi transferido para o Hospital Emílio Ribas. As atividades de pesquisa continuaram sendo feitas no prédio-sede. “E a novidade é que o atendimento não voltará mais para o prédio restaurado”, diz Uip. A secretaria decidiu manter a unidade reservada para os pesquisadores e para a equipe de diagnósticos. “Entendemos que o atendimento é mais adequado no Emílio Ribas”, completa o secretário.
História. O Pasteur ocupa um dos únicos cinco casarões históricos da Paulista – aqueles erguidos na primeira fase da avenida. De acordo com o livro São Paulo: Cidade e Arquitetura – Um Guia, do arquiteto Francisco Zorzete, pertence “a um modesto conjunto arquitetônico”. “Foi uma iniciativa privada e filantrópica de Ignácio Wallace da Gama Cochrane e José Maria do Valle. O imóvel, que passou por reformas, pertencia a um grupo de médicos, mas dificuldades econômicas levaram à doação ao Governo do Estado, em 1916”, atesta o livro.
O projeto original, do arquiteto Carlos Milanese, tem influência neoclássica da Itália oitocentista. O casarão foi erguido entre 1895 e 1903. “Mas foi reformado para se adaptar ao estilo neobarroco em voga. Ao acabamento em alvenaria de tijolos foi aplicada argamassa, além de requadros como decoração da fachada”, continua Zorzete. “Sobre a entrada foi colocado um frontão. As paredes e os vãos de iluminação permanecem inalterados.”
“Repare que o edifício conta ainda com longos beirais, calhas e condutores que, como se sabe, constituem excelente proteção para sol e chuva”, comenta o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Saúde. O Instituto Pasteur nasceu em 1903, em outro endereço. É considerado o responsável pelo controle da raiva animal e humana no Estado. Todos os anos, o laboratório do Pasteur realiza 8 mil exames virológicos e 20 mil sorológicos. É reconhecido como “laboratório de referência” pelo Ministério da Saúde para caracterização antigênica e genética dos isolados de vírus da raiva do País, seja em humanos, seja em diversos animais.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pesquisadores encontram ruína de moinho colonial

Estadão CADERNO METRÓPOLE D8
EDISON VEIGA
Sexta-Feira 13/06/14
Hélvio Romero/ Estadão
Foi em uma sala de aula que o arquiteto Victor Hugo Mori, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), se deparou com um achado que pode acrescentar muito à história do Estado de São Paulo. Ele dava aula no curso de zeladoria do patrimônio, promovido pelo Estúdio Sarasá em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, no fim do ano passado. Então um dos alunos contou a história de uma construção antiga, no meio do mato, coisa de uns 7 km do centro da cidade, no Sítio do Morro.
“Ele falou que, para ele, aquilo era patrimônio histórico. Mas achava que era uma antiga prisão de escravos ou coisa assim”, recorda-se Mori. No dia seguinte, o arquiteto e um grupo de alunos foram ao local. Encontraram muito mais do que ruínas de uma antiga casa de detenção. Encontraram o que pode ser um raro vestígio de moinho de trigo do período bandeirista, colonial. Século 17. “Há registros documentais que os bandeirantes produziam, com autorização do capitão-donatário, farinha de trigo. Que não era consumida por aqui, ao contrário da de mandioca e de milho, mas sim vendida, exportada. Era uma fonte de renda a mais para quem vivia de aprisionar e vender índios como escravos.”
O curioso achado rendeu idas e vindas de técnicos do Iphan. Mori recorreu a alguns especialistas. Um deles foi o historiador Francisco Dias de Andrade, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estudioso justamente da produção de trigo no passado brasileiro. “Embora os bandeirantes sejam os responsáveis pelo que se chamou de ‘ciclo de caça aos índios’, hoje sabemos que os chefes paulistas dos séculos 16 e 17 tinham outros interesses na escravização dos índios”, pontua o pesquisador, em relatório enviado ao Iphan. Ele contextualiza a questão: muitos índios eram utilizados como mão de obra nas grandes fazendas, e algumas delas cultivavam trigo. “Em nenhum lugar a produção de trigo foi tão grande e tão importante como em Santana do Parnaíba”, afirma Andrade. “As maiores propriedades parnaibanas tinham mais de 400 escravos e se estendiam por toda a região ao longo do Rio Tietê.”
O historiador lembra que, embora moinhos hidráulicos tenham sido comuns na região, as ruínas do Sítio do Morro são a prova da “existência de um tipo de moagem mais antiga e mais sofisticada”. “Essas ruínas impressionam pelo tamanho e função: reduzir a farinha o trigo aqui produzido”, analisa o historiador. “Ele desperta a atenção também por ter sido todo construído com alvenaria de pedra e argamassa de barro, técnica rara em toda região de serra.”
Planos. O moinho está em área que pertence à Prefeitura de Santana do Parnaíba. Uma equipe do Iphan já esteve reunida com a Secretaria de Cultura do município. A ideia do instituto é acompanhar toda a análise que deve ser feita do material encontrado. E que todo o processo seja feito de maneira aberta, numa espécie de “sítio-escola”, em que estudantes poderão acompanhar as pesquisas. Tudo indica que esse pedaço da história paulista está prestes a ser comprovado – e com muitas testemunhas.
ANÁLISE
Documento datado de 1681 cita a existência de moinho
Francisco Dias de Andrade, historiador
O moinho descoberto em Santana do Parnaíba parece ter sido construído por Antonio Furtado de Vasconcellos, que foi casado com Benta Dias, filha de Suzana Dias e irmã de André Fernandes, fundadores de Santana. Pois já aparece citado no inventário post-mortem de Vasconcellos, aberto em 1628. É só um palpite, mas acredito que deve ter sido construído entre 1620-25. Este Vasconcellos foi um dos primeiros grandes produtores de trigo (fato para o qual já chamava atenção o prof. John Monteiro), e seu moinho aparenta ter sido o mais importante da vila, mesmo depois da sua morte.
Em 1658, foi comprado de Baltazar Fernandes por Paulo Proença de Abreu. O curioso é que Abreu era cunhado de Fernandes, pois havia casado com Benta Dias após a morte de Vasconcellos, em 1628. Mas como ele teve um filho de mesmo nome, não conseguimos descobrir qual deles comprou o moinho em 1658. O importante é que existe um documento de 1681 que descreve a demarcação das terras públicas da vila de Parnaíba onde um dos pontos de referência citados é “a barra [do ribeiro] do moinho que foi do capitão Paulo Proença de Abreu”. O texto dá a entender que o moinho já se encontrava parado ou com uma produção muito pequena de farinha.
Publicado originalmente na edição impressa do Estadão, dia 14 de junho de 2014

Museu da Imigração de SP reabre sábado

MARINA AZAREDO E EDISON VEIGA - O ESTADO DE S.PAULO
26 Maio 2014 | 00h 03

Fechado há 4 anos para restauro, local terá ambientes revitalizados e mostra sobre bairros

No fim do século 19 e início do século 20, milhões de imigrantes italianos chegaram ao porto de Santos para trabalhar nas plantações de café e posteriormente na indústria. Em 2013, 2,6 mil haitianos chegaram à capital paulista. Nos últimos meses, centenas vieram do Acre, após o fechamento do abrigo em que viviam.
Entre esses dois momentos, São Paulo foi o destino de muitos outros grupos de imigrantes, como japoneses, espanhóis, portugueses, chineses, bolivianos, árabes e, mais recentemente, africanos. Após quatro anos fechado para reforma, o Memorial do Imigrante reabre as portas no dia 31 – totalmente repaginado e sob novo nome: agora Museu da Imigração do Estado de São Paulo.
"Queremos encurtar a distância entre a imigração do passado e a do presente", afirma Marília Bonas, diretora executiva da instituição, que funciona justamente no prédio da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás. Entre 1887 e 1978, o local recebeu cerca de 2,5 milhões de pessoas, vindas de 70 nacionalidades diferentes, além de muitos brasileiros, que chegavam sobretudo do Nordeste – o ranking dos que passaram por lá é liderado pelos italianos, seguidos por espanhóis, brasileiros, portugueses e japoneses. Hoje o prédio é dividido entre o museu e o Arsenal da Esperança, um centro de acolhida para adultos em situação de rua.
O lugar foi fechado em 2010 para restauração do prédio, tombado desde 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), e reformulação do espaço expositivo. Assim como a maioria dos museus atualmente, ganhou muito conteúdo audiovisual e interativo. Dividida em nove módulos, a exposição terá documentos, fotos, vídeos, depoimentos e objetos que faziam parte do cotidiano da antiga hospedaria.
Nesse período em que ficou fechado, o museu reforçou sua presença na internet. Foi para o ar o novo site do Museu da Imigração, com todo o acervo da instituição, digitalizado e disponível gratuitamente. No total, o www.museudaimigracao.org.br abriga 87.640 imagens históricas, 3.223 cartas, 2.824 mapas, 9.740 documentos iconográficos, 2.098 recortes de jornal e informações como nome completo, data de nascimento e origem dos cerca de 1,5 milhão de imigrantes que passaram pela hospedaria.
Reinauguração. A nova exposição que foi montada para a reabertura promete impressionar. Em um dos ambientes, o visitante saberá exatamente como eram os dormitórios em que ficavam os imigrantes e o local onde faziam as refeições. As gavetas de um grande móvel de madeira poderão ser abertas. Dentro delas, haverá fac-símiles de cartas escritas pelos imigrantes na época. "É uma espécie de voyeurismo. Lendo essas cartas, o público entenderá melhor como era a experiência individual da imigração", afirma Marília.
Inicialmente quatro bairros estarão representados na exposição de longa duração: Santo Amaro, Brás, Mooca e Bom Retiro – todos escolhidos por terem forte identificação com imigrantes.
Durante a reforma, que custou R$ 20 milhões, também foi descoberto um letreiro em uma das paredes com orientações para imigrantes. "Se saírem da Hospedaria, não poderão mais retornar", diz um dos avisos. "Era um alerta para que não fossem cooptados por aliciadores, que os chamavam para trabalhar nas fazendas de café sem o intermédio do governo", explica Marília.
Para o espaço das exposições temporárias, o museu já negocia parcerias com o museu de Ellis Island, que conta a história dos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos também nos séculos 19 e 20, e com o Museu de Imigração de Buenos Aires. Nos primeiros dois meses de funcionamento do Museu da Imigração, a entrada será gratuita. Depois, o ingresso para as exposições custará R$ 6.

Como era a piscina da Vila Itororó

Estadão por Edison Veiga
02/06/2014
Nos anos 1950, o arquiteto Benedito Lima de Toledo fez a foto acima, na Vila Itororó, no bairro do Bexiga. É um precioso registro da primeira piscina particular de São Paulo em funcionamento – ela seria desativada pouco tempo depois.

Vila Itororó, finalmente, vai ser recuperada

Estadão Caderno Cidades 23/05/2014
Por Edison Veiga

A Prefeitura anunciou hoje que as obras de restauro da Vila Itororó, no Bexiga, finalmente vão começar. O projeto de recuperação do histórico conjunto arquitetônico foi idealizado há 40 anos, pelos arquitetos Benedito Lima de Toledo e Décio Tozzi. Nesta primeira fase, que deve ser iniciada em junho, serão investidos R$ 4 milhões – via lei de incentivo fiscal, metade de um banco, metade de uma construtora.
“A obra será executada em quatro etapas”, explica o arquiteto Tozzi. “No total, é uma obra para quase R$ 50 milhões, mas outras empresas patrocinadoras devem surgir.” A primeira fase está prevista para ser concluída em outubro. No período, “será feita a análise estrutural das edificações, limpeza geral do terreno, instalação do canteiro de obras, drenagem do solo, demolições e remoção de entulho e o início da consolidação das construções que compõem o conjunto arquitetônico”, conforme informou a Prefeitura, em nota.
“Só depois da limpeza poderemos entrar lá para avaliar a situação atual”, comenta o arquiteto Toledo. “A vila foi muito vandalizada nos últimos anos, infelizmente.”
Após o restauro, no local deve funcionar um abrangente centro de memória, com espaços museológicos, recintos para exposições, salas para oficinas, biblioteca, brinquedoteca e até um restaurante italiano, com o objetivo de difundir a culinária característica do bairro, conhecido pelas cantinas. “Também haverá uma residência artística, para que artistas de outras parte do mundo, com projetos, passem temporadas ali, estudando e produzindo”, conta Tozzi.
História. A vila foi construída entre 1916 e 1922 pelo tecelão português Francisco de Castro e ficou conhecida como Vila Surrealista, por causa da arquitetura extravagante, com grandes carrancas e outros adornos. É formada por 37 casas e um palacete, com piscina. De acordo com a dupla de arquitetos, foi a primeira piscina particular de São Paulo e era abastecida com água corrente, do córrego.
Por suas peculiaridades arquitetônicas, o endereço sempre foi visto com curiosidade pelos paulistanos. Muitos dos pilares e carrancas instalados ali antes pertenceram ao Teatro São José, destruído por um incêndio em 1898 – o português Castro teria comprado os adornos de revendedores de materiais de demolição.
Ao longo do século passado, o conjunto de casas foi se transformando em cortiço – o local abrigava 86 famílias até 2011. A Vila Itororó é protegida pelos órgãos de patrimônio histórico municipal.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Casa da Fazenda do Morumbi faz 200 anos

OESP Cidades C8 25/03/2013

EDISON VEIGA

Um dos imóveis mais antigos de São Paulo, a Casa da Fazenda do Morumbi, na zona sul, comemora 200 anos com uma programação especial de exposições, um baile previsto para setembro e a expectativa de sediar uma peça teatral musical. "Como não há data oficial de inauguração, sabemos apenas que foi em 1813, a ideia é que celebremos durante todo o ano", comenta Jussara Martins, curadora da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História (Abach), que administra o histórico local.

Com paredes de taipa, o casarão está em um terreno de 8 mil m². Os cômodos internos são ocupados frequentemente por eventos - a Abach aluga o espaço - e exposições. Em um grande salão, funciona, de forma fixa, um restaurante. No pavimento inferior, está preservada uma antiga senzala e, no mesmo terreno, há ainda uma capela.

A história oficial diz que a casa fazia parte de uma extensa fazenda, dedicada ao cultivo de chá, que pertenceu ao inglês John Rudge (1792- 1854) - ele teria vindo na mesma esquadra que, em 1808, trouxe a família real portuguesa ao Brasil e recebeu as terras em doação de d. João VI.

O primeiro a viver na casa foi o padre Diogo Antonio Feijó (1784-1843), sacerdote que entrou para a história como Regente Feijó. Em 1920, o imóvel ruiu parcialmente. A reconstrução foi projetada pelo arquiteto modernista Gregori Warchavchik (1896-1972). Até 1978, seguiu como residência particular - a família Carvalho Ramos foi a última a morar ali. Mais tarde, o local acabou tombado pelos órgãos municipal e estadual de proteção ao patrimônio. Restaurada nos anos 1990, a casa foi reinaugurada em 1999.

Cenário. Nos anos 1950, o casarão serviu de cenário para filmes, caso de Sinhá Moça, produzido pela Vera Cruz. "Por isso, pretendemos neste ano ter aqui uma peça, um musical, que relembre a mesma história", adianta a curadora.

Até o fim do mês, está em cartaz mostra da artista Lu Terra que conta a história de São Paulo a bico de pena.

CASA DA FAZENDA DO MORUMBI: AVENIDA MORUMBI, 5.594; TEL.: (11) 3742-2810; CASADAFAZENDA.COM.BR

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Prédio atual é uma réplica do original

15/07/2012

ADRIANA FERRAZ / OESP



Sob o comando do artista plástico Claudio Castro, a Capela do Pátio do Colégio, no centro de São Paulo, sofreu uma repaginação completa há cerca de dois anos.

O altar do templo dedicado ao beato José de Anchieta - originalmente feito de madeira com toques de olho folheado - recebeu um painel de azulejos dourados, com o símbolo jesuíta no centro, um crucifixo de madeira do século 17 suspenso por cabos de aço e piso de granito na cor vermelha.

A revolução na estética interna da capela se estendeu ainda à pia batismal, que ganhou mais profundidade e fonte com água morna para a realização das cerimônias. Segundo Castro informou na época, o projeto teve o objetivo de fazer uma "releitura do estilo barroco", que, na capela, recebeu aspecto mais "clean e moderno".

As polêmicas intervenções foram possíveis porque a construção, de 1979, não era tombada pelos órgãos de defesa do patrimônio histórico e cultural. O prédio é apenas uma réplica do original, construído no século 16 e depois demolido.

Hoje, o espaço é aberto para celebrações festivas, como casamentos e batismos, concertos, apresentações de coral e missas - de terça à sexta, elas ocorrem sempre ao meio-dia; aos domingos, às 10h. Os visitantes da capela podem ainda conferir, ao lado, o acervo do Museu Anchieta.